sábado, 26 de outubro de 2013

Operação flagra uso ilegal de madeira da Mata Atlântica

itabela fiscalização.jpgBrasília (25/10/2013) – Visando averiguar e coibir o uso ilegal de madeiras nativas da Mata Atlântica no extremo sul da Bahia, uma equipe mista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Militar Ambiental (CIPPA-BA) realizou na terça-feira (22), ação fiscalizatória no povoado de Montinho, em Itabela.
Segundo o ICMBio, a produção e comercialização de artefatos de madeira com essências nativas da Mata Atlântica no local é amplamente conhecida. Lá se fabricam gamelas, farinheiras, tábuas de petisco e de cozinha, colheres, pilões, entre outros artefatos, de forma irregular. Há na região, o uso do eucalipto como alternativa legal ao uso de essências nativas, mas ainda representa pequena parte da produção.
Esta ilegalidade também ocorre em outras localidades da região e a madeira irregular provém dos remanescentes florestais, principalmente do Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, unidade de conservação (UC) federal gerida pelo ICMBio, e envolve, inclusive, a população indígena que reside nas aldeias e fora delas – fato confirmado pelos moradores de Montinho durante a fiscalização.
Na ação foram apreendidos, em dois locais, lixadeira, cavadores de colher, torno, motores de torno, serras, madeira in natura (toretes), mais de mil colheres, cerca de quinhentos pilões, gamelas, farinheiras e pratos de madeira, peças principalmente de parajú e sapucaia, além da realização do embargo das atividades. Durante a fiscalização, moradores de Montinho fecharam a BR-101, impedindo a saída do local e o tráfego pela rodovia, em represália às apreensões. Argumentavam que para liberar a pista o Ibama teria de devolver os equipamentos apreendidos – uma impossibilidade legal, afirmam os fiscais.
Após cumprido o planejamento da operação, mesmo tendo averiguado a existência de outros pontos de produção irregular, a fim de evitar confronto direto com a comunidade a equipe retirou-se do local por acessos alternativos. No final da tarde, representantes dos moradores do município estiveram na sede do Ibama de Eunápolis para negociar. Ficou agendado entre ICMBio, Ibama e moradores de Montinho uma reunião para tratar da produção de artefatos de madeira, na Câmara de Vereadores de Itabela. Com isso a rodovia BR-101 foi liberada.
Montinho já foi contemplado com o Projeto Formas da Natureza, executado pela Raízes Meio Ambiente e Desenvolvimento, que desenha a cadeia produtiva de artefatos de madeira com o eucalipto. Diante disso, afirma Apoena Figueiroa, coordenador regional do ICMBio (CR7), Montinho não pode insistir no uso de madeira irregular da Mata Atlântica. Apoena informa que ações de fiscalização em toda a cadeia exploratória de madeira nativa, principalmente a oriunda do parque nacional, continuarão ocorrendo.
Outros projetos existem na região para incentivar a população indígena e não indígena a deixar de extrair e manufaturar a madeira nativa. Entre eles destacam-se o projeto de reflorestamento do Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal realizado pelo Natureza Bela com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Cooplanjé, cooperativa indígena que trabalha neste reflorestamento; e o projeto Arboretum, que prevê o financiamento de viveiros de quintal nas aldeias da região do Monte Pascoal.
Muito ainda precisa ser feito em termos de fonte de renda e em termos do comprometimento da população em parar com a retirada de madeira nativa, mas todos os atores envolvidos nesta questão estão, em rede, trabalhando para atingir a meta de desmatamento zero, frisa Carolina Ferreira, analista ambiental do ICMBio. "No entanto, ainda é necessário conscientizar o consumidor para não adquirir essas peças de madeira nativa", complementa Henrique Jabur, chefe de Fiscalização do Ibama.

Comunicação ICMBio
(61) 3341-9280

Um bilhão de pessoas passa fome, enquanto a comida é jogada no lixo

   



 



    Desperdício de alimentos é mais do que suficiente para acabar com o flagelo global






LUCIENE DE ASSIS

Quase um bilhão de pessoas, em várias partes do planeta, passam fome diariamente. E o problema maior nem é a escassez de alimentos, alerta o pesquisador e diretor técnico do Projeto Fome, Fábio Vitta. A questão está no desperdício, diz ele, que apresentou, nesta sexta-feira (25/10) dados no painel “Resíduos de alimentos, desperdício e combate à fome” no segundo dia da 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que vai até domingo (27/10), em Brasília, sob a organização do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

De acordo com o relatório do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado dia 16 de outubro, de 30% a 50% de tudo o que o mundo produz em alimentos vão parar em lixões e aterros sanitários, são incinerados ou servem de alimento a animais. Para Fábio Vitta, o debate é uma oportunidade para mobilizar governo e entes sociais pela responsabilidade social e zelo ao meio ambiente. Ele acredita que a união de forças e o estabelecimento de objetivos comuns podem gerar soluções ambientais e sociais economicamente viáveis, envolvendo a indústria de alimentos e supermercados.

DIGNIDADE

Na plateia, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, confirmou a seriedade do problema e a urgência de se propor soluções de curto prazo: “Há uma relação injusta na proporção da produção de alimentos e do quanto a gente desperdiça, por isso precisamos compartilhar experiências exitosas, pois a fome é um problema que a gente pode solucionar, situação que os catadores conhecem bem”, disse. “O desafio é monumental e colocar fim à fome é uma questão de dignidade e cidadania”.

De acordo com a representante da Plataforma Sinergia, Rosana Perroti, é urgente reduzir o desperdício de comida, pois tem muita gente passando fome no mundo e uma pessoa com fome não estuda, não gera renda nem consome. “Precisamos compor forças e gerar soluções”, afirmou.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo gasta, por ano, cerca de R$ 534 bilhões na tentativa de amenizar o problema da fome. E a perda de alimentos chega à casa dos R$ 1,5 trilhão. A falta de nutrição, lembra Rosana Perroti, gera um prejuízo cerebral irreversível. “A solução é levar os 50% de alimentos que vão para o lixo para o prato de quem tem fome, tendo por base um modelo capaz de atender à demanda ambiental e social”, salientou. Ela lembrou que alimentar os famintos reduz custos públicos e privados associados, elimina impactos ambientais, gera renda para as cooperativas e evita o desperdício de recursos naturais”.

SEM COR

O presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Maurício Groke, lembrou: “Estamos falando de resíduo alimentar”. Nesse sentido, a indústria conta com a ajuda da ciência química, explicou o presidente regional da empresa Novozymes América Latina, Pedro Luiz Fernandes. Ele acredita que, no Brasil, o desperdício é uma questão cultural e depende de educação.

O sócio da Deloitte Touche e Tohmatsu, empresa de origem inglesa, Ives Muller, chamou a atenção para um detalhe: “Fome não tem cor, raça, religião nem nacionalidade”, com o endosso do diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi. “Estamos todos sujeitos à fome em situação de catástrofe ou guerra”, insistiu o presidente da Confederação Nacional do Turismo (CNTUR), Nelson de Abreu Pinto.

Reciclar os resíduos da construção civil proporciona lucro ambiental

Setor privado passa a seguir decisão do Conama. Parte dos rejeitos já é reutilizada



                                                            
                                                             
LUCIENE DE ASSIS

O crescimento acelerado dos resíduos produzidos em obras de engenharia, especialmente nos grandes centros urbanos, foi alvo de debates e propostas de solução no painel “A construção civil e seu papel na Política Nacional de Resíduos Sólidos”, na manhã desta sexta-feira, durante a 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que acontece até domingo (27/10), em Brasília. A representante da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Lilian Sarrouf, falou que, a partir de agora, a gestão dos resíduos Do setor será feita de forma diferenciada, tendo por base a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2002.

Lilian Sarrouf afirmou que a medida abriu o debate sobre a questão ambiental para o setor da construção civil. “Agora o objetivo principal é buscar a não geração de resíduos, reduzir e reutilizar”, disse. Entre as diretrizes estratégicas propostas pelo setor estão a eliminação de 100% das áreas de disposição irregular até 2014, implantar aterros classe A em todos os 5.565 municípios; reutilizar e reciclar a totalidade dos resíduos de construção; elaborar planos de gerenciamento de resíduos e de diagnóstico quantitativo e qualitativo de geração, coleta e destinação dos resíduos até 2015.

CONSÓRCIO

O representante do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Vale dos Sinos (Pró-Sinos), Maurício Prass, apresentou a experiência dos 27 municípios que se uniram em parceria e montaram uma usina de reciclagem para dar destinação aos resíduos da construção civil. O debate foi enriquecido com as informações apresentadas pelo professor da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), Valdir Schalch, que desenvolve trabalhos de gerenciamento de resíduos sólidos.

Schalch disse que é preciso dar tratamento ambientalmente adequado a esses resíduos de construção. “Estes resíduos não são tão inertes e podem poluir o meio ambiente, como ocorre com os rejeitos do gesso”. Seu colega e professor da Escola Politécnica da USP, Sérgio Ângulo, lembrou que usinas de reciclagem estão surgindo em cidades de médio e grande porte. Segundo ele, é possível implantar estruturas semelhantes e de baixo custo para atender às necessidades das pequenas cidades brasileiras, que somam mais de 90% dos 5.565 municípios do país.

O vice-prefeito de Belo Horizonte e secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros, declarou que a capital mineira tem um programa de reciclagem e coleta de entulhos da construção civil funcionando desde 1993. Foram construídas, na região, três usinas de reciclagem de entulho, que retiram material em 31 unidades de recolhimento. Em 2012, foram processadas 104 mil toneladas de resíduos, sendo que 90% do material selecionado e triturado foram reaproveitados.

Catadores enfrentam preconceito. Mas, aos poucos, mudam de status.

Painel discute a situação de homens e mulheres e as dificuldades enfrentadas por eles

 RAFAELA RIBEIRO

“O Brasil não pode levar 21 anos para implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos, como levou para aprovar a lei no Congresso”, destacou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, durante debate na 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que se realiza em Brasília até domingo (27/09). Ela chamou a atenção para a necessidade de um debate amplo, envolvendo opiniões diversas, na busca de soluções para os problemas enfrentados. “A conferencia tem que ser marcada pela oportunidade de todos mostrarem seus pontos de vista. É importante que nós possamos ouvir a todos. Que todos possam se pronunciar, que todos possam falar e oferecer soluções para os resíduos”, acrescentou.

Segundo a ministra, esta é a maior conferência já realizada pelo setor. São 200 mil pessoas envolvidas diretamente, de todas as unidades da federação. E fez questão e destacar a participação dos catadores: “Havia, e ainda há, é importante que se diga, preconceito. Mas por outro lado, a sociedade começa a ver nos catadores como mais do que um agente social de transformação, mas um agente que resolve muitos dos problemas que nós, sociedade, causamos no nosso dia a dia”.

O painel “Os catadores na gestão de resíduos sólidos – de excluídos da sociedade a empreendedores da reciclagem”, tratou da situação da categoria no Brasil e contou a apresentação de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Economia Aplicada  (IPEA) sobre o setor, apresentada pela pesquisadora Fernanda Góes.